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Memória muscular: é possível voltar a treinar e recuperar a capacidade funcional facilmente?

Por Redação

Em 27 de maio de 2025

Leg press é um dos equipamentos mais contaminados na academia. — Foto: Freepik

A ideia de que “o músculo tem memória” é frequentemente citada em academias e rodas de conversa sobre treino. Mas o que isso realmente significa? E, mais importante: o que acontece com a capacidade funcional — aquela que nos garante independência e qualidade de vida — após longos períodos sem exercício?

Um novo estudo publicado na revista Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism (2025) trouxe dados valiosos sobre isso. A pesquisa acompanhou um grupo de mulheres com média de 68 anos, que realizaram 36 semanas de treino de resistência, depois ficaram 2 anos sem qualquer prática de exercício e, posteriormente, retomaram o treino por 12 semanas.

Os resultados são reveladores.

O que aconteceu com o corpo dessas mulheres?

Primeiro, a massa muscular mostrou uma impressionante resiliência: após o período inicial de treinos, houve um aumento de 13% na massa magra. Mesmo após dois anos de inatividade, a perda foi modesta, de apenas 4%, demonstrando que o músculo treinado não se desfaz tão rapidamente quanto muitos pensam.

Por outro lado, a força muscular, medida pelo exercício de supino, não foi tão resistente. Ela inicialmente subiu 13%com o treino, mas, após a pausa, despencou em 46%, ficando 38% abaixo do nível inicial antes do treinamento. Mesmo com a retomada do treino, a recuperação foi apenas parcial: a força subiu 20%, mas ainda ficou aquém dos níveis desejados.

O dado mais preocupante veio da capacidade funcional, avaliada pelo clássico teste Timed Up-and-Go, que mede a agilidade e segurança ao levantar de uma cadeira e caminhar. Esse índice melhorou 11% após o treino, mas, com a pausa, houve uma queda brusca de 29%. E, mesmo após a retomada do exercício, a recuperação foi quase nula: apenas 1,5%.

Esses resultados deixam claro: enquanto o músculo “perdoa”, a funcionalidade não. E é exatamente essa funcionalidade que garante independência, autonomia e longevidade na terceira idade.

Os dados são contundentes: a massa muscular pode ser recuperada com certa facilidade mesmo após anos de pausa, graças a adaptações fisiológicas que preservam estruturas e facilitam a hipertrofia futura. Mas a força e, especialmente, a capacidade funcional sofrem perdas significativas e de difícil recuperação.

Isso tem implicações práticas enormes: a capacidade funcional é o que permite subir escadas sem ajuda, levantar-se de uma cadeira sem dificuldade, ou mesmo prevenir quedas, uma das principais causas de morbidade e mortalidade entre idosos.

Em resumo: a consistência no treino é mais importante do que fases intensas, seguidas de longos períodos de inatividade.

Esse aparente “perdão” dos músculos, que permite uma recuperação parcial da massa muscular mesmo após anos parados, levanta uma pergunta importante: o que explica essa resiliência?

É aí que entra o conceito — tão falado e, ao mesmo tempo, tão debatido — da memória muscular.

Memória muscular: o que a ciência já sabe — e o que ainda não

O fenômeno da memória muscular ajuda a explicar por que a massa magra foi relativamente preservada mesmo após dois anos de pausa. Mas, embora muito citada, essa memória ainda é um campo de investigação cercado de consensos e controvérsias.

O que já é consenso:

Há evidências robustas sobre alguns pontos que sustentam o conceito da memória muscular:

  • Mionúcleos permanentes. Estudos com modelos animais indicam que, uma vez adquiridos, os mionúcleos essenciais à síntese de proteínas não desaparecem durante a atrofia muscular, permitindo que o músculo reconstrua massa com mais facilidade após pausas.
  • Adaptações neurais. O sistema nervoso central melhora a coordenação motora e o recrutamento das unidades motoras com o treino, e parte dessas adaptações persiste, facilitando o retorno ao exercício.
  • Plasticidade metabólica. Treinos prévios induzem alterações na capacidade oxidativa e na sensibilidade à insulina, que podem ser mantidas, favorecendo o retorno à atividade física.

O que ainda gera controvérsia:

Apesar desses avanços, há muitas perguntas sem respostas definitivas. A primeira delas é: quanto tempo dura a memória muscular? Alguns estudos sugerem que ela pode persistir por anos, como parece ter ocorrido neste estudo; outros indicam que sua duração pode ser mais limitada.

Outra dúvida relevante é se a memória muscular funciona da mesma forma em todas as idades. Provavelmente não. Em idosos, há um declínio natural da capacidade anabólica e das funções neuromusculares, o que pode limitar a eficácia da memória muscular, especialmente na recuperação da funcionalidade, como sugere este estudo.

Por fim, há o questionamento sobre o impacto da memória muscular na funcionalidade. Embora a recuperação da massa muscular tenha sido significativa, a capacidade funcional permaneceu praticamente estagnada após a retomada do treino. Isso sugere que, embora a memória muscular facilite a recuperação do volume muscular, ela pode não ser suficiente para restabelecer as habilidades motoras complexas e a funcionalidade cotidiana.

O que fica de lição prática?

Os achados reforçam uma mensagem essencial: não pare de treinar — a não ser que esteja afastado por orientação médica, lesão ou problemas de saúde. Mesmo que a intensidade ou o volume sejam reduzidos, a constância é fundamental, especialmente após os 50 anos.

Treinos que priorizam não apenas a força muscular, mas também a mobilidade, o equilíbrio e a coordenação são indispensáveis para garantir uma velhice ativa, autônoma e com menos risco de quedas e complicações.

Além disso, é importante desfazer a ideia de que se pode “compensar” anos de inatividade com uma temporada de treinos intensos. A ciência mostra que a recuperação não é tão simples, sobretudo no que tange à funcionalidade.

Em outras palavras: consistência vale mais do que intensidade temporária. Treinar é mais do que ganhar músculos. É preservar vida, autonomia e independência.

Fonte: InfoMoney

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